terça-feira, 4 de agosto de 2020

CANTO XXXIII



-Este texto é relativo ao último canto do "Paraíso". Para uma leitura sequencial, desde o primeiro canto, o leitor deve clicar na postagem de 16 de setembro de 2016. 

-É possível adquirir um livro contendo todo o conteúdo deste blog por meio do site https://www.agbook.com.br/book/349773--SOBRE_A_DIVINA_COMEDIAPARAISO   

-Sobre o "Inferno", consultar  http://curtindoacomedia.blogspot.com/  e sobre o "Purgatório", http://curtindoopurgatorio.blogspot.com




PARAÍSO

 

Canto XXXIII

 

            O Canto começa com a oração de S. Bernardo à Virgem (v. 1-39), que assim a invoca:   

“Vergine Madre, figlia del tuo figlio,

umile e alta più che creatura,

termine fisso d’etterno consiglio,

 

tu se’ colei che l’umana natura

nobilitasti sì, che ‘l suo fattore

non disdegnò di farsi sua fatura.     (v.1-6)


Virgem e mãe, filha do teu filho,/ humilde e mais alta do que qualquer outra  criatura/ meta prefixada do desígnio  eterno,

tu és aquela que a natureza humana/ tanto enobreceu que o seu criador/ não desdenhou de tornar-se sua criatura.


Salvador Dalì

     

             Como se vê, a linguagem empregada nessa invocação contém vários  paradoxos:  Maria é virgem e mãe; filha de Deus e sua mãe; humilde e elevada. Ademais, o Criador dos homens é também criatura humana.  

            Na sequência, o santo refere-se ao ventre de Maria, onde “reacendeu-se o Amor” ( v. 7), i.e. Deus, cujo “desígnio” (v. 3) foi a redenção do gênero humano pela Encarnação do Verbo nela (1). O calor desse amor “permitiu germinar esta flor” (così è germinato questo fiore- v. 9), ou seja, permitiu a salvação dos bem-aventurados, o desabrochar da Rosa no Empíreo.  

            Depois, S. Bernardo afirma que, para os eleitos, Maria é “luz meridiana/ de caridade  (/.../ meridiana face/ di caritate /.../- v. 10-11), ou amor, e para os que estão “abaixo, entre os mortais” ( /.../ e giuso, intra ‘ mortali,- v. 11),  i..e, na Terra, ela é “fonte perene de esperança” (se’ di speranza Fontana vivace- v. 12). Menciona assim, aqui, duas das três virtudes teologais (fé, esperança e caridade). A fé naturalmente está subentendida.

            O santo prossegue essa introdução à sua prece, dizendo “que aquele que deseja a graça” (che qual vuol grazia /.../- v. 14) mas não busca a intercessão de Maria é como o que “anseia por voar mas não tem asas” (sua disïanza vuol volar sanz’ ali-  v.15). Além disso, afirma que a sua benignidade é tanta que não apenas socorre a quem pede a ela, “mas muitas vezes/ espontaneamente se antecipa ao pedido” ( /.../ ma molte fïate/ liberamente al dimandar precorre- v. 17-8). Esse foi o caso do próprio Dante, quando se encontrava perdido na “selva oscura”. Lá ele foi auxiliado por Virgílio, que Beatriz enviou em seu socorro. Mas esse auxílio originou-se, na realidade, na iniciativa da Virgem Maria, que pediu a Santa Lúcia comunicar-se com Beatriz visando prestar-lhe tal auxílio, conforme foi visto na primeira parte da Comédia (Inf., canto II, v. 94-6) (2). 

            A seguir, o santo passa a formular a sua prece propriamente dita, que se estende do v. 21 ao v. 39.  Nela, ele roga a intercessão da Virgem em favor de Dante: 

Or questi, che da l’infima lacuna

de l’universo infin qui ha vedute

le vite spiritali ad una ad una,

 

supplica a te, per grazia, di virtute

tanto, che possa con li occhi  levarsi

più alto verso l’ultima salute.      (v. 22-7)

Este homem, que do mais profundo abismo/ do universo até aqui tem visto/ as vidas dos espíritos, uma a uma,

agora suplica a ti, por graça, a virtude/ de poder elevar seus olhos/ ainda mais alto, para a última salvação.


            Assim, o que S. Bernardo pede à Virgem é que Dante possa concluir sua viagem, pelos três reinos do Além, vendo “a última salvação” (v. 27), ou seja, vendo Deus. Para tanto, ele oferece as suas preces

 perché tu ogne nube li disleghi

di sua mortalità co’ prieghi tuoi,

sì che ‘l sommo piacer li si dispieghi.     (v. 31-3)

para que tu disperses toda nuvem/ da mortalidade dele com as preces tuas,/ de modo que a Suma Felicidade se lhe manifeste.

             Pede ainda que a Virgem conserve “sãos os seus afetos, depois de tanto ver   (/.../ che conservi sani,/ dopo tanto veder, li affetti suoi-  v. 35-6), ou depois que Dante retornar ao mundo dos mortais. E que este, com a proteção de Maria -- chamada pelo santo de “rainha” (regina- v. 34) -- vença suas “paixões humanas” (i movimenti umani- v.37). Menciona por fim Beatriz que, com outros bem-aventurados, junta-se às suas preces, reforçando-as.   

            Aqui termina a oração de S.Bernardo. Os olhos de Maria, fixos nele, mostraram “quanto as orações devotas lhe são gratas” (quanto i devoti prieghi le son grati- v. 42); depois, voltam-se “para a Eterna Luz” (l’etterno lume- v. 43) (a luz de Deus), relata o poeta, observando que “não se creia que qualquer outra criatura/ possa ver nessa Luz tão claramente” ( nel qual non se dee creder  che s’invii/ per criatura l’occhio tanto chiaro- v.44-5) quanto Maria.   

             Dante se aproximava do “fim de todos os desejos” (/.../ fini di tutt’ i disii- v. 46). Ansioso, quando Bernardo lhe fez sinal para olhar para o alto, ele já se antecipara: “ mas eu já estava,/ por mim mesmo, fazendo o que ele queria” ( /.../ ma io era/ già per me stesso tal qual ei volea- v.50-1); sua vista penetrava mais e mais no raio “da Alta Luz, que é vera em si mesma” (de l’alta luce che da sé è vera-  v. 54), quer dizer, “não deriva de outra luz, mas é fonte de toda luz e de toda verdade”, conforme Zoli e Zanobini (3). 

            A partir desse ponto, diz o poeta nos vv. 55-7, a visão que teve supera sua fala e memória. Ele não tem capacidade de recuperá-la pela lembrança e reproduzi-la pela linguagem. Sua visão é assim inefável (4).  

            Dante declara que ele, após a visão, ficou apenas com a doce sensação daquela experiência extraordinária, comparando-se a um sonhador em quem, “depois do sonho, a emoção impressa/ permanece” (che dopo il sogno la passione impressa/ rimane, /.../- v. 59-60) mas não recorda de seu conteúdo.  Quase tudo desapareceu da visão de Dante, diz ele, “/.../ porém ainda distila/ no coração a doçura que nasceu dela” ( /.../ e ancor mi distilla/ nel core il dolce che nacque da essa- v. 62-3).  Seguem-se outras duas comparações relativamente à visão que teve e lhe foge à lembrança:

Così la neve al sol si dissigila;

così al vento ne le foglie levi

si perde ala sentenza di Sibila.    (v. 64-6)

Assim, a neve se dissolve ao Sol;/ assim, levadas pelo vento, nas folhas leves,/ se perdiam os oráculos da Sibila.

             A Sibila, profetisa de Cumas é personagem da mitologia greco-romana. O Livro VI da “Eneida” (5) refere-se a essa particularidade de ela escrever seus oráculos sobre folhas.  


Sibila de Cuma por Michelangelo
Sibila de Cumas por Michelangelo

            Depois, Dante pede à “Suma Luz” (somma luce- v.67), ou a Deus, ajuda para o poema que irá compor, por meio de um reforço à sua lembrança e à capacidade de expressar o que viu, dando à sua mente “de novo um pouco de como apareceste” (ripresta un poco di quel che parevi- v. 69) 

e fa la lingua mia tanto possente,

ch’ una favilla sol de la tua gloria

possa lasciare a la futura gente;

 

ché, per tornare alquanto a mia memoria

e per sonare un poco in questi versi,

più si conceperà di tua vittoria.    (v.70-5)

 e faz a minha língua tão potente/ que uma fagulha só da tua glória/ possa eu deixar à futura gente;pois retornando algo a minha memória/ e ecoando um pouco nestes versos/ mais se compreenderá a tua vitória.

             Dante agora retoma o seu relato. Diz que se aproxima da fonte de luz (6). Afirma que suporta a intensidade dessa luz e que se perderia se seus olhos se desviassem dela. Dante se extraviaria se não olhasse para Deus.  Assim, ao contrário da luz do Sol, essa outra luz, apesar de ser intensa, não cega mas reforça a capacidade da visão, atrai a visão (7).

           E dirige-se à “graça abundante” (abbondante grazia- v. 82), em tom de agradecimento, que lhe permitiu “fixar o olhar na Luz Eterna” (ficcar lo viso per la luce etterna- v. 83).  Dentro dessa Luz divina, em sua profundidade, Dante diz que viu a unidade de todas as coisas, usando a metáfora de um livro:

 Nel suo profondo vidi che s’ interna

legato con amore in un volume,

ciò che per l’universo si squaderna:   (v. 85-7)

Na sua profundidade vi que se reúne,/ atado com amor em um volume,/ o que no universo está desencadernado:

             Conforme um comentador, essa é uma ideia platônica: a essência de todas as coisas (sua forma) existe na mente de Deus. As coisas são exemplos dessa essência (8). 

             O que está unido em Deus são todas as “substâncias e acidentes e suas relações” (sustanze e accidenti e lor costume- v. 88), conforme a linguagem da filosofia escolástica que Dante adota. Para essa doutrina, “substância” é o que existe por si mesmo (por exemplo, uma pessoa ou um anjo) e “acidente” é a qualidade de uma substância (9), uma qualidade não necessária, contingente (ser alto ou baixo, por exemplo) (10).  

             Dante crê que viu “desse nó” ( v. 91) (a união das substâncias e acidentes em Deus) (11) a “forma universal”, que é, para  Sayers e Reynolds, o conjunto das propriedades, características, do universo, aquilo que o faz ser o que é. Ele vê então a ideia de todas as coisas, tal como existe na mente de Deus, uma experiência inefável (12), que não pode ser descrita em palavras.    

            Para Hollander, nessa passagem (do v. 85 ao 93), os versos explicam o universo e o põe em relação com o seu Criador. Dante, ao ver a diversidade universal como uma unidade, está vendo como Deus ao criá-la (13).           

            O poeta então lamenta que não reteve toda a visão extraordinária que lhe foi oferecida. “Um só momento” (Un punto solo /.../- v. 94) lhe causou mais esquecimento do que causaram “vinte e cinco séculos” (veinticinque secoli- v.95) desde o empreendimento “que fez Netuno admirar-se com a sombra do Argo  (che fé Nettuno ammirar l’ombra d’Argo- v.96), ou seja, desde que esse deus viu, do fundo do mar, a sombra do primeiro navio construído, o Argo, o que teria ocorrido em 1223 a. C. (lembremo-nos que a ação da “Divina Comédia” se passa em 1300 d.C). Foi nesse navio que Jasão e os Argonautas viajaram em sua busca pelo velocino de ouro, conforme a mitologia clássica (14)  

            Dante então retorna ao tempo da narrativa, mencionando a sua mente “toda absorta” (tutta sospesa- v.97), que “mirava fixamente” (mirava fissa- v. 98) (a Luz Eterna), e sugerindo aqui a comparação dele com Netuno (que via, admirado, do fundo do mar, não o navio mas a sombra dele) (15). 

            O poeta prossegue em seu comentário à visão que teve afirmando que “Quem vê aquela Luz se torna de tal modo” (A quella luce cotal si diventa-  v. 100) que não quer desviar-se dela por outra vista, “porque o bem, que é objeto da vontade” (però ch’il ben, ch’è del volere obietto- v.103), está todo contido nela, e fora dela “é defeituoso” (è defettivo- v. 105), não é perfeito, conforme a concepção teológica de Dante.    

            Diz ele: aquilo que recorda, será expresso de modo insuficiente (no poema que vai compor), mas se assemelhará ao que fala uma criança “que ainda molha sua língua no seio da mãe” (che bagni ancor la lingua a la mammella- v. 108).  

             Na sequência, outro fato extraordinário ocorre. Aquele “Vivo Lume” (vivo lume- v. 110) que Dante mirava tinha uma aparência única, “pois Ele é sempre igual ao que era antes” ( che tal è sempre qual  s’era davante- v. 111). Mas para o poeta tal aparência mudava, à medida que a contemplava-- “mudando eu, ante mim se transformava  (mutandom’io, a me si travagliava- v. 114). E ele então passa a distinguir ali “três círculos” (tre giri- v. 116), de diferentes cores mas do mesmo tamanho, representação da Santíssima Trindade. Como se sabe, pelo dogma católico, Deus é uno e trino ao mesmo tempo, formado por três pessoas: Pai, Filho e Espírito-Santo. Assim, quando Dante diz, na continuação, que “um de outro parecia ser reflexo/ como arco-íris de arco-íris” (e l’un da l’altro come iri da iri/ parea reflesso, /.../- v. 118-9) está se referindo a Deus Filho (Cristo) que procede de Deus Pai. E Deus Espírito-Santo, representado pelo terceiro círculo, procede dos dois anteriores: “ /.../ e o terceiro parecia fogo/ soprado igualmente por aqueles dois círculos” (e ’l terzo parea foco/ che quinci e quindi igualmente si spiri- v. 119-120). 

            Segue-se um lamento de Dante, pela dificuldade de expressar o que viu em palavras: “Ó, como é insuficiente a minha fala, e como é débil/ para exprimir meu pensamento!  (Oh quanto è corto il dire e come fioco/ al mio concetto! /.../- v. 121-2).

            Dante então dirige-se, de novo, diretamente à “Luz Eterna” (O luce etterna- v. 124) destacando que ela reside em si mesma, só por ela é compreendida e compreendendo ama e sorri a si própria. Ele se dirige assim a Deus, que é uno e trino ao mesmo tempo, o que foge à compreensão humana. Segundo os comentadores, trata-se aqui não só de alusão à Trindade divina mas também ao modo como ela expressa em si a união entre a inteligência e o amor, este representado pelo Espírito-Santo, decorrente da relação entre o Pai e o Filho. “A Trindade se manifestaria como divino sorriso” (16). 

            Prosseguindo em sua apóstrofe à “Luz Eterna”, Dante afirma que aquele círculo que nela ele observou “como luz refletida” (come lume reflesso- v. 128), “dentro de si, com a sua mesma cor” (dentro da sé, del suo colore stesso,- v. 130), lhe “pareceu pintado com a nossa efígie” (mi parve pinta de la mostra effige- v. 131), ou seja, lhe pareceu com a forma humana. Representa, já se vê, a segunda pessoa da Trindade, o Filho (Cristo). Embora a “nossa efígie” seja pintada com a mesma cor do círculo, ela pode ser discernida dentro dele (17). 

            Na sequência, Dante se refere a um geômetra, “que todo se concentra/ na medida do círculo” (/.../ che tutto s’affige/ per misurar lo cerchio, /.../- v. 133-4), uma alusão ao problema tradicional (e de solução impossível) da quadratura do círculo, que consiste em encontrar um retângulo com área igual à do círculo (18). Dante se compara a esse geômetra, ao buscar entender “como se unia/ a nossa imagem ao círculo e como ali tinha lugar” (/.../ come se convenne/ l’imago ao cerchio e come vi s’ indova;- v. 137-8). Mas, conforme Musa, “Deus é indescritível em termos humanos, assim como um círculo não pode ser medido em termos de um quadrado” (19).  Dante assim reconhece as limitações de sua inteligência para compreender isso: “mas as minhas asas não eram capazes de voar tanto” (ma non eran da ciò le proprie penne:- v.139). De repente, porém, sua mente “foi golpeada/ por um clarão de entendimento que satisfez a sua vontade” (/.../ fu percossa/ da un fulgore in che sua voglia venne- v. 140-1). Dante entendeu então, ainda conforme Musa, “como as duas naturezas, a humana e a divina, estão unidas em Deus. Essa é a essência de Deus, visível para todas as almas dos eleitos”  (20).  

            Aqui perdeu força a sua “elevada visão” (alta fantasia- v. 142), aqui ela se encerrou. Mas nessa altura sua inteligência (ou “seu desejo transmutado”) e sua vontade já eram movidas pelo Amor, vale dizer, por Deus, em harmonia com o cosmos, como afirma Hollander (21):

 ma già volgeva il mio disio e ‘l velle,

sì come rota ch’ igualmente è mossa,

l’amor che move il sole e l’altre stelle.    (v. 143-5)

mas já movia o meu desejo e a minha vontade,/ como uma roda que gira uniformemente,/ o Amor que move o sol e as outras estrelas. 

            Velle” significa “querer”, em latim. Dante usa algumas vezes no poema o infinitivo nessa língua como substantivo (22).  Por outro lado, a palavra “stelle” (estrelas), é a última não só do “Paraíso” mas também  do “Inferno” e do “Purgatório”, expressando o  anseio do poeta pela sua transcendência.    

         

Amos Nattini

 NOTAS  


(1) LONGNON, Henri- “La Divine Comédie”. Traduction, préface, notes et commentaires par Henri Longnon. Classiques Garnier. Paris,1951, p. 697. 

(2) MANDELBAUM, Allen- “The Divine Comedy of Dante Alighieri- Paradiso”. A verse translation by Allen Mandelbaum. Notes by Anthony Oldcorn and Daniel Feldman, with Giuseppe Di Scipio. Bantam Books, 1986- p.426-7). 

(3) ZOLI, M. e ZANOBINI, F.- “La Divina Commedia: a cura di M.Zoli e F.Zanobini. Inferno. Purgatorio. Paradiso”. Bulgarini, 2013, p.1009. 

(4) HOLLANDER, Robert & Jean- “Dante Alighieri- Paradiso”: a verse translation by Robert & Jean Hollander. Introduction & Notes by Robert Hollander.  Doubleday, 2007, p. 833.

 

(5) MANDELBAUM, Allen- “The Divine Comedy of Dante Alighieri- Paradiso”, op cit, p. 427. 

(6) HOLLANDER, Robert & Jean- “Dante Alighieri- Paradiso”, op cit, p. 836.   

(7) ZOLI, M. e ZANOBINI, F.- “La Divina Commedia”, op cit, p. 1010.

 

(8) CIARDI, John-  “The Divine Comedy”: The Inferno. The Purgatorio. The Paradiso”. Translated by John Ciardi.  New American Library, 2003, p.895. 

(9) MUSA, Mark-- “Dante- The Divine Comedy- Volume 3: Paradise”. Translated with an Introduction, Notes, and Commentary by Mark Musa. Penguin Books, 1986, p. 397. 

(10) ZOLI, M. e ZANOBINI, F.- “La Divina Commedia”, op cit, p. 1010. 

(11) MUSA, Mark-- “Dante- The Divine Comedy- Volume 3: Paradise”, op cit, p.397.  

(12) SAYERS, Dorothy L. and REYNOLDS, Barbara—“Dante: The Divine Comedy 3- Paradise”. Translated by Dorothy L. Sayers and Barbara Reynolds.  Penguin Books, 1971, p.348. 

(13) HOLLANDER, Robert & Jean- “Dante Alighieri- Paradiso”, op cit, p. 836.   

(14) MANDELBAUM, Allen- “The Divine Comedy of Dante Alighieri- Paradiso”, op cit, p. 428;  HOLLANDER, Robert & Jean- “Dante Alighieri- Paradiso”, op cit, p. 838.   

 (15) MUSA, Mark-- “Dante- The Divine Comedy- Volume 3: Paradise”, op cit, p.398.  

 

(16) ZOLI, M. e ZANOBINI, F.- “La Divina Commedia”, op cit, p. 1012. 

 

(17) MANDELBAUM, Allen- “The Divine Comedy of Dante Alighieri- Paradiso”, op cit, p. 428.

 

(18) Id., ib, p. 428. 

(19) MUSA, Mark-- “Dante- The Divine Comedy- Volume 3: Paradise”, op cit, p.399.    

(20) Id., ib, p. 400.  

(21) HOLLANDER, Robert & Jean- “Dante Alighieri- Paradiso”, op cit, p. 827 e 843.    

(22) Id., ib, p. 843 e 96.      

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 -Para ouvir o Canto XXXIII: 

https://www.youtube.com/watch?v=YjGlA6vQud0

 

(acessado em 23.10.20)

 


sexta-feira, 10 de julho de 2020

CANTO XXXII



 PARAÍSO


Canto XXXII


            S. Bernardo, ao mesmo tempo em que contemplava a Rainha dos Céus, inicia uma longa exposição a Dante, que se estende até o v. 87, apontando os bem-aventurados (citados nominalmente ou não, pois alguns são identificados por perífrases), bem-aventurados esses que ocupam as diversas camadas, ou “degraus” da Rosa celeste, imaginada pelo poeta como um imenso anfiteatro.

A Rosa Celestial

            Inicia por referir-se àquela que abriu “A chaga que Maria fechou e curou” (La piaga che Maria richiuse e unse- v.4), ou seja, Eva, causadora da chaga do pecado original. A humanidade foi redimida de tal pecado por Cristo, gerado por Maria (1). O assento de Eva é logo abaixo ao de Maria, pois ela está “a seus pés” (da’ suoi piedi- v.5). “Na terceira ordem dos assentos” (Ne l’ordine che fanno i terzi sedi- v. 7) está  Raquel (ao seu lado, Beatriz). Raquel, conforme a Bíblia, foi a segunda esposa de Jacó e é símbolo da vida contemplativa (enquanto sua irmã Lia, a primeira esposa, representa a vida ativa) (2). Nas ordens subsequentes, sentam-se Sara, Rebeca, Judite “e a que foi/ bisavó do cantor que, lamentando/ seu pecado, disse ‘Miserere mei’” (v. 10-12). Segundo os comentadores, trata-se de Rute, bisavó do rei Davi, e as palavras latinas referidas iniciam o Salmo 50 (Vulgata) composto por ele (3). Conforme a Bíblia, Davi cometeu adultério com Betsabeia, que dele engravidou (esse filho seria o rei Salomão). Para poder casar com ela, propiciou a morte de seu marido Urias numa batalha (4). Tal foi o “pecado” (fallo- v. 12) de Davi, cujo termo em italiano também significa falo, pênis (5). Essa conotação certamente não é casual... Aliás, mais adiante, quando o poeta fala da circuncisão e das “asas inocentes” (innocenti penne- v. 80) das crianças, há uma sugestão semelhante.

            Quanto às outras mulheres mencionadas: Sara foi mulher de Abrão (depois Abraão) e mãe de Isaac, Rebeca foi mulher de Isaac e mãe de Jacó e Esaú, e Judite libertou Israel dos assírios ao decapitar Holofernes (6).   

            Como se vê, Bernardo, “de degrau em degrau” (di soglia in soglia- v. 13), desde Maria, “descendo de pétala em pétala” (/.../ per la rosa giù di foglia in foglia- v.15), indica para Dante, verticalmente, as ocupantes dos sete primeiros níveis ou camadas da Rosa, todas mulheres hebreias (Eva se inclui aí por ser a mãe de toda a humanidade) (7). E as inúmeras ocupantes “do sétimo degrau para baixo” (dal settimo grado in giù- v.16), até o centro da Rosa, embora não nominadas, também são judias (v. 17).  

            A linha vertical assim formada, até esse centro, separa “da flor todas as pétalas” (dirimendo del fior tutte le chiome- v. 18). Consiste no “muro/que divide os sacros degraus” (/.../ il muro/ a che si parton le sacre scalee- v. 20-1), i.e  separa as almas que têm assento nas pétalas. De um lado estão aquelas do Velho Testamento, que tiveram fé na vinda de Cristo, e do outro, as do Novo Testamento, as que acreditaram nele depois de já ter vindo. No primeiro caso, todos os lugares estão ocupados ou, como dizem os versos, “a flor é completa / em todas as suas pétalas” (/.../ ‘l fiore è maturo/ di tutte le sue foglie, /.../- v. 22-3); no segundo caso, ainda há lugares vazios. Quando todos os assentos estiverem ocupados, será o fim do processo de salvação, ou seja, será o fim  do mundo (8).

            Na outra metade da Rosa, oposta ao “muro” vertical das mulheres hebreias, há o dos santos homens, em cujo topo se situa o  grande João/ que, santamente, o deserto e o martírio / sofreu, e depois, o Inferno, por  dois  anos” (/.../ gran Giovanni,/ che sempre santo ‘l diserto e ‘l martiro/ sofferse, e poi l’ inferno da due anni;- v. 31-3), dados que o identificam como S. João Batista. Esse precursor de Cristo, que viveu no deserto, foi decapitado por ordem de Herodes, morreu dois anos antes de Jesus e foi para o Limbo, de onde seria retirado por Cristo (9).

            Abaixo de S.João, estão sucessivamente S.Francisco, S. Benedito,  Santo Agostinho “e outros ainda, de fileira em fileira, até aqui embaixo” (e altri fin qua giù di giro in giro- v. 36), até o centro da Rosa, de onde S. Bernardo e Dante veem tudo (10). Os santos mencionados, dentre os inúmeros outros ali presentes, são os fundadores de três ordens religiosas (franciscanos, beneditinos e agostinianos). A posição mais elevada de S.Francisco  refletiria a hierarquia dentre eles segundo Dante.

            A junção dos dois “muros” -- o das mulheres hebreias e o dos homens santos -- divide o “anfiteatro” da Rosa em duas metades, ou dois conjuntos de semicírculos, de um lado estão os bem-aventurados do Velho Testamento e do outro, os do Novo Testamento.

            O poeta imagina a seguir uma linha horizontal, uma fileira ou “degrau/ que corta pelo meio as duas divisões” (/.../ dal grado in giù che fiede/ a mezzo il trato le due discrezioni- v. 40-1). Abaixo dessa linha sentam as “almas que deixaram seus corpos/ antes de terem o poder de escolha” (ché tutti questi son spiriti asciolti/ prima ch’ avesser vere elezïoni- v. 44-5), i.e antes da idade da razão. São assim as crianças, judias ou cristãs, que no Paraíso “estão não por mérito próprio mas de outros” (per nullo proprio merito si siede,/ ma per l’altrui, /.../- v.41-2). No lado do Velho Testamento, há dois tipos de crianças, as que morreram antes da instituição da circuncisão e estão lá portanto pela fé dos pais, e as que foram circuncidadas. No lado do Novo Testamento, estão as crianças que foram batizadas (11).  

            Bernardo diz a Dante que ele pode confirmar isso olhando para tais crianças que, como os outros bem-aventurados, têm a mesma aparência de quando morreram (Dante aqui diverge da concepção de S.Tomás de Aquino) (12). Elas também participam do coro celeste:

Ben te ne puoi accorger per li volti
e anche per le voci püerili,
se tu li guardi bene e se li ascolti.    (v. 46-48)

Podes dar-te conta disso pelos rostos/ e também por suas vozes infantis/ se olhares bem para elas e se as ouvires (cantar).

            Bernardo percebe que Dante está intrigado com uma questão, mas não a expressa, permanecendo calado. O santo então afirma que “vai desatar o forte nó/ que prende teus pensamentos sutis” (ma io discioglierò ‘l forte legame/ in che ti stringon li pensier sottili- v. 50-1). A dúvida de Dante refere-se ao fato de que essas crianças ocupam diferentes fileiras ou círculos da Rosa, refletindo níveis desiguais de felicidade (13). Porém, como pode haver diferenciação entre as crianças salvas, uma vez que elas não alcançaram a idade da razão, para poder escolher entre o bem ou o mal? Bernardo inicia sua responda dizendo que nada ali é casual. Tudo naquele “reino” (regno- v. 61) foi estabelecido “tão justamente/ quanto o anel corresponde ao dedo” ( /.../ sì che giustamente/ ci si risponde da l’anello al dito- v. 56-7). “O Rei” (Lo rege- v.61) “dota de graça ao seu prazer/ diversamente; e aqui basta o efeito.” (/.../ a suo piacer di grazia dota/ diversamente; e qui basti l’effetto- v. 65-6). Assim, as diferenças ali não refletem o mérito mas a graça divina (14). A causa disso está na mente de Deus. E ao ser humano só cabe perceber o efeito (15).

            Bernardo passa então a ilustrar o que afirmou citando o exemplo bíblico daqueles “gêmeos/ movidos pela ira ainda no útero da mãe” (/.../ gemelli/ che ne la madre ebber l’ira commota- v. 68-9).  O poeta faz uso novamente da perífrase para se referir aos irmãos Esaú e Jacó, distintos pela “cor dos cabelos” (color d’i capelli- v.70), “manifestações externas que refletem suas diferenças internas, suas capacidades diversas de conhecer e amar a Deus”, conforme Hollander (16). Só Deus vê isso porque tal diferenciação decorre da graça que Ele próprio concedeu desigualmente às crianças, “independente do mérito de suas ações” (/.../ sanza mercé di lor costume- v. 73). A propósito, segundo a Bíblia, Esaú e Jacó foram os pais de dois povos: o primeiro, dos Edomitas, e o outro, dos Israelitas (Gen. 25: 23). E nela consta que Deus amou mais a Jacó do que a Esaú (Rom, 9:13) (17).

            Segundo os versos, nos séculos iniciais bastava “somente a fé dos pais” (solamente la fede d’i parenti- v. 78) (na vinda do Messias) para salvar as crianças, depois, foi necessária a circuncisão, introduzida por Abraão e mais tarde, “após a vinda do tempo da graça” (ma poi che ‘l tempo de la grazia venne- v. 82), i.e na era cristã, o batismo. Sem este, “tal inocência lá embaixo é retida” (tale innocenza là giù si ritenne- v. 84), ou seja, a criança fica no Limbo, após a morte.  A circuncisão, que se justificava, segundo S.Tomás, porque era através do homem que o pecado original se transmitia, consistiria assim numa prefiguração do batismo (18).

            É interessante salientar, nessa altura, um aspecto formal dos versos originais, em italiano: a repetição da mesma rima -- “Cristo” -- três vezes, nos vv. 83, 85 e 87. Essa é a quarta vez que isso ocorre no “Paraíso” (já ocorrera antes, nos cantos XII, XIV e XIX, sendo que, nestes dois últimos, intrigantemente, nos mesmos vv. 104, 106 e 108, uma simples sugestão de mistério?). Dante, em sinal de respeito, não considerava nenhuma outra palavra digna de rimar com  Cristo, “que é o Verbo” (19).

            Bernardo encerra essa sua primeira intervenção pedindo a Dante para olhar a face de Maria: “Olha agora a face que mais se assemelha /à de Cristo (Riguarda omai ne la faccia che a Cristo/ più si somiglia, /.../- v.85-6), pois “só o esplendor dela pode te preparar para a visão de Cristo”  (/.../ la sua chiarezza/ sola ti può disporre a veder Cristo- v.86-7). Seguem-se versos descritivos de uma cena pictórica que se poderia denominar “o triunfo da Virgem”. Dante declara inicialmente “que viu tanta alegria chover sobre ela” (Io vidi sopra lei tanta allegrezza/ piover,- v. 88-9) que nada do que havia visto antes lhe causara tanta admiração. É a alegria dos anjos, manifestada por uma chuva de luz (20). São os  inúmeros anjos, ou “inteligências santas” (le menti sante- v.89), “criados para voar naquela altura” (create a trasvolar per quella alteza- v.90). Depois, os versos referem-se ao “Amor” (v. 94) (citação indireta do arcanjo Gabriel, o da Anunciação), que ali descera, que abre as asas para ela, saudando-a “cantando ‘Ave Maria, gratia plena’” (v.94), uma cantilena que toda a corte celeste (formada pelos anjos e os bem-aventurados) responde, “de modo que cada rosto se fez mais luminoso com alegria” (sì ch’ogne vista sen fé più serena- v.99), na interpretação de Hollander.  


Amos Nattini

            Na sequência, Dante, após expressar sua gratidão por Bernardo estar ali para orientá-lo, pergunta quem é aquele anjo que viu (anjo esse que já sabemos ser Gabriel):

qual è quell’angel che con tanto gioco
guarda ne li occhi la nostra regina,
innamorato sì che par di foco?       (v. 103-5)

quem é aquele anjo que, com tanto deleite,/ contempla nos olhos a nossa Rainha/ tão enamorado que parece arder como fogo?

            Bernardo “brilhava por causa da beleza de Maria/ como a estrela matutina reflete a luz do Sol” (/.../ abbelliva di Maria,/ come del sole stella mattutina- v. 107-8), uma comparação que salienta bem o esplendor da mãe de Cristo refletida sobre o santo (a “estrela matutina” é Vênus, mencionada na ladainha à Virgem Maria (21), e o Sol, naturalmente, representa Deus). 

            Bernardo responde a Dante, ainda por uma perífrase, dizendo que o anjo “é aquele que levou a palma/ lá embaixo a Maria, quando o Filho de Deus/ quis assumir a carga do nosso corpo” (/.../ elli è quelli che portò la palma/ giuso a Maria, quando ‘l Figliuol  di Dio/ carcar si volse de la mostra salma- v.112-4) (a palma é símbolo da vitória, no caso, a dos homens sobre a morte, viabilizada pelo sacrifício de Cristo. Gabriel é representado com ela, nas pinturas da Anunciação) (22).   

            A seguir, o santo pede para Dante seguir com o olhar os “grandes patrícios deste império” (/.../ i gran patrici/ di questo imperio /.../- v. 116-7) sobre os quais vai falar, associando aqui, por essa linguagem, a Rosa ao império romano. Aponta para o alto, onde estão sentados dois pais, o da humanidade (Adão) e o da Igreja (S.Pedro) (23). O primeiro, à esquerda de Maria e o segundo, à sua direita, ambos logo abaixo dela, que é chamada “Augusta” (Agusta- v.119), tratamento oficial dado à imperatriz na Roma antiga (24). Adão é referido indiretamente como “o primeiro pai por cujo temerário gosto/ a espécie humana prova tanto amargor” (è ‘l padre per lo cui ardito gusto/ l’umana specie tanto amaro gusta- v. 122-3). S.Pedro, por sua vez, é citado como “aquele velho pai/ da Santa Igreja a quem Cristo confiou/ as chaves desta bela flor” (/.../ quel padre vetusto/ di Santa Chiesa a cui Cristo le chiavi/ raccomandò di questo fior venusto- v. 124-6), vale dizer, do “reino dos céus”, aqui identificado com a Rosa. A metade desta, à esquerda de Maria, como se viu acima, é ocupada pelos bem-aventurados do Velho Testamento; e a da sua direita, pelos do Novo Testamento.

            Prosseguindo, Bernardo afirma que, ao lado de Pedro, senta-se “aquele que viu, antes de morrer,/ todas as atribulações da bela esposa” ( /.../ quei che vide tutti i tempi gravi,/ pria che morisse, de la bela sposa- v.127-8)  conquistada por Cristo com o seu sacrifício (“com a lança e com os cravos”: /.../ con la lancia e coi clavi- v. 129). Trata-se de S.João Evangelista, o autor do livro bíblico da "Revelação" (ou "Apocalipse") que prevê todas as dificuldades que a Igreja (a “esposa” de Cristo) enfrentaria. E ao lado de Adão senta Moisés, referido como “o guia daqueles que viveram de maná,/ gente ingrata, volúvel e recalcitrante” (quel duca sotto cui visse di manna/ la gente ingrata, mobile e retrosa- v.131-2), pois segundo a Bíblia os judeus, liderados por Moisés em sua fuga do Egito, se alimentaram de maná no deserto (25).

            Na sequência, Bernardo menciona Ana, a mãe de Maria, que morreu antes de Cristo nascer. Ela tem assento no outro lado da Rosa, diametralmente oposta a Pedro e ao lado de S.João Batista. Ela é o último dos bem-aventurados citados da metade do "anfiteatro" relativo ao Velho Testamento, daqueles que acreditavam na vinda de Cristo (26). De sua filha, ela “não move os olhos ao cantar Hosana” (/.../ non move occhio per cantare osanna- v. 135), um hino de ação de graças. Assim, enquanto todos ali olham para cima, louvando Deus em seu canto, Ana O louva olhando para sua filha (27).

            Do outro lado de João Batista senta-se Lúcia (uma santa do século IV, de Siracusa), aquela que enviou Beatriz para Dante, diz Bernardo a este,  quando, com os olhos para baixo, rumavas à tua ruína” (quando chinavi, a rovinar, le ciglia- v. 138).  Como o tempo é curto (para a visão mística de Dante) (28), o santo interrompe a sua enumeração dos bem-aventurados ali presentes, “como bom costureiro/ que faz a saia conforme o pano” (/.../ come buon sartore/ che com’elli ha del panno fa la gonna- v. 140-1), mais uma comparação.

            Agora é hora, diz ele, de voltar os olhos “para o Amor Primeiro” (al primo amore- v.142) (Deus), para que Dante possa penetrar, “tanto quanto possível, em seu esplendor” (quant’ è possibil per lo suo fulgore- v. 144). A extensão disso depende da graça concedida pelo próprio  Deus (29). Para tanto, S. Bernardo recomenda que Dante rogue a Maria que o ajude por meio da oração que ele vai fazer, “de modo a não apartar o coração das minhas palavras” (sì che dal dicer mio lo cor non parti- v. 150).   Tal oração inicia o próximo (e último) canto da "Divina Comédia".    


           
NOTAS



(1) ZOLI, M. e ZANOBINI, F.- “La Divina Commedia: a cura di M.Zoli e F.Zanobini. Inferno. Purgatorio. Paradiso”. Bulgarini, 2013, p.1000.

(2) CIARDI, John-  “The Divine Comedy”: The Inferno. The Purgatorio. The Paradiso”. Translated by John Ciardi.  New American Library, 2003, p.886. 

(3) MANDELBAUM, Allen- “The Divine Comedy of Dante Alighieri- Paradiso”. A verse translation by Allen Mandelbaum. Notes by Anthony Oldcorn and Daniel Feldman, with Giuseppe Di Scipio. Bantam Books, 1986- p.423.

(4) SAYERS, Dorothy L. and REYNOLDS, Barbara—“Dante: The Divine Comedy 3- Paradise”. Translated by Dorothy L. Sayers and Barbara Reynolds.  Penguin Books, 1971, p. 339. 

(5) BENEDETTI, Ivone C.(coordenação geral)—“Dicionário Martins Fontes Italiano-Português”. S.Paulo: Martins Fontes, 2012- p. 347.   

(6) MANDELBAUM, Allen- “The Divine Comedy of Dante Alighieri- Paradiso”, op cit, p. 423.

(7) SAYERS, Dorothy L. and REYNOLDS, Barbara—“Dante: The Divine Comedy 3- Paradise”, op cit, p. 339.

(8) MUSA, Mark-- “Dante- The Divine Comedy- Volume 3: Paradise”. Translated with an Introduction, Notes, and Commentary by Mark Musa. Penguin Books, 1986, p. 383).

(9) MANDELBAUM, Allen- “The Divine Comedy of Dante Alighieri- Paradiso”, op cit, p. 424.

(10) Id. ib., p. 289.

(11) HOLLANDER, Robert & Jean- “Dante Alighieri- Paradiso”: a verse translation by Robert & Jean Hollander. Introduction & Notes by Robert Hollander.  Doubleday, 2007, p.809.

(12) SAYERS, Dorothy L. and REYNOLDS, Barbara—“Dante: The Divine Comedy 3- Paradise”, op cit, p. 340. 

(13) Id. ib., p. 341.  

(14) HOLLANDER, Robert & Jean- “Dante Alighieri- Paradiso”, op cit, p.788. 

(15) CIARDI, John-  “The Divine Comedy”, op cit, p.887. 

(16) HOLLANDER, Robert & Jean- “Dante Alighieri- Paradiso”, op cit, p.810.  

(17) “BÍBLIA Sagrada”- traduzida da vulgata e anotada pelo pe. Matos Soares. XII edição. Edições Paulinas. 

(18) MANDELBAUM, Allen- “The Divine Comedy of Dante Alighieri- Paradiso”, op cit, p. 424-5. 

(19) HOLLANDER, Robert & Jean- “Dante Alighieri- Paradiso”, op cit, pp.294, 349, 475 e 810.

(20) Id. ib., p. 811.  

(21) MUSA, Mark-- “Dante- The Divine Comedy- Volume 3: Paradise”, op cit, p.386.

(22) HOLLANDER, Robert & Jean- “Dante Alighieri- Paradiso”, op cit, p.812.

(23) CIARDI, John-  “The Divine Comedy”, op cit, p.887. 

(24) LONGNON, Henri- “La Divine Comédie”. Traduction, préface, notes et commentaires par Henri Longnon. Classiques Garnier. Paris,1951, p. 696.

(25) MANDELBAUM, Allen- “The Divine Comedy of Dante Alighieri- Paradiso”, op cit, p. 425. 

(26) Id. ib., p.425.
 
(27) CIARDI, John-  “The Divine Comedy”, op cit, p.887. 

(28) HOLLANDER, Robert & Jean- “Dante Alighieri- Paradiso”, op cit, p.789 e 814. 

(29) CIARDI, John-  “The Divine Comedy”, op cit, p.888. 

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-Para ouvir o Canto XXXII:


(acessado em  22.10.20)